sábado, 15 de agosto de 2015

Especificações em engenharia sustentável.

Como especificar
empreendimentos sustentáveis
Edição 257 - Agosto/2015


 A engenharia preocupa a cada vez mais com sustentabilidade. Engenheiros são os grandes responsáveis pelas transformações do planeta. São eles os cérebros que fazem as contas, que estudam as possíveis e mais  viáveis alterações  a serem feitas ao meio-ambiente para acomodar o ser humano. Esta reflexão, apartir da revista DE ARQUITETURA da PINI SISTEMA, é uma forma de vermos a responsabilidade da intervenção e sua titularidade. Leiam:











A concepção de empreendimentos eficientes e que gerem menos impacto ao meio ambiente requer dos arquitetos um conhecimento que vai além da especificação de produtos cercados de adjetivos como "verde" e "ecológico". As demandas atuais da sociedade exigem que a sustentabilidade seja tratada como um requisito básico das edificações, e não mais como um artigo de luxo ou argumento de marketing.
Por isso, um dos cuidados a serem tomados no momento da elaboração de um projeto é fugir do "greenwashing", ou seja, da utilização de soluções que em um primeiro momento parecem agregar sustentabilidade ao projeto, mas que, na verdade, não diferem muito do produto tradicional. Isso pode ser feito, por exemplo, com a verificação prévia do atendimento à legislação por parte do fornecedor, incluindo normas técnicas. Também passa pela exigência de informações detalhadas sobre os produtos a serem adquiridos. "Não basta dizer que a tinta tem baixo índice de composto orgânico volátil em sua composição ou que requer baixo consumo de água e energia para produção. É preciso informar quanto", explica a arquiteta Cristina Umetsu, gerente da Equipe de Consultoria de Projeto Sustentável e Eficiência Energética do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE).
Os selos verdes, que muitas vezes servem de parâmetro para a especificação de soluções sustentáveis, são importantes ferramentas de apoio para a tomada de decisão, mas devem ser usados com cautela. Para o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e conselheiro do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), Vanderley John, o fato de o produto ter um selo é positivo, pois demonstra que o fabricante submeteu seu produto a avaliações. Mas é preciso investigar quais foram os critérios de análise, pois eles podem ser mais brandos do que a expectativa do consumidor. "As certificações ambientais possuem papel fundamental na melhoria das práticas de mercado, mas de forma alguma são garantias de plenitude sustentável", acrescenta o arquiteto Marcelo Nudel, especialista em sustentabilidade e eficiência energética da Arup no Brasil.
OLHO NO FUTURO
A adequação climática é um dos aspectos mais críticos. Para Marcelo, a combinação entre orientação solar, formato do edifício, posicionamento correto das fachadas de vidro e sombreamento externo é mais eficaz do que qualquer tecnologia sustentável. "Vidros de alta eficiência são recursos interessantes, mas devem ser explorados em segunda instância", diz. Para o arquiteto, ignorar as condições climáticas é um dos erros mais cometidos quando se concebe edifícios no Brasil. "O clima tropical não permite grandes panos de vidro desprotegidos indiscriminadamente, mesmo que sejam de alta eficiência, sob risco de perda significativa de eficiência energética, de conforto térmico para os ocupantes e de gerar ofuscamentos", argumenta.
A análise de ciclo de vida da construção é outro ponto que precisa ser mais trabalhado nos projetos. Embora os edifícios sejam concebidos para durar ao menos cinco décadas, a regra ainda é privilegiar a economia na fase de construção sem se ater ao retorno do investimento ao longo dos anos. Um exemplo pode ser visto na instalação de hidrômetros para monitorar o consumo individualizado e por uso final da edificação. Trata-se de um custo adicional para a construção, mas que pode ser um grande instrumento de gestão para quem vai cuidar do prédio. "Mesmo que o custo de instalação de um painel fotovoltaico ou de um sistema de tratamento de esgoto seja impeditivo no cenário atual, poderíamos ao menos projetar e construir uma infraestrutura mínima para permitir a instalação futura de alguns equipamentos durante a operação do prédio, sem ter que parar seu funcionamento", propõe Cristina. Para ela, um grande problema é que, geralmente, as equipes que trabalham com projeto e obra não conhecem a rotina e as dificuldades para a manutenção de um edifício em funcionamento. "Seria importante termos um trabalho mais integrado e com o envolvimento das equipes com experiência em operação predial desde as fases iniciais de projeto, para evitar custos adicionais, retrabalhos, paradas de operação e desperdício tecnológico", defende a arquiteta do CTE.
Minimizar os impactos ambientais de um edifício passa, também, por um processo de construção com ótima gestão. Boas práticas de projeto podem diminuir perdas de materiais ao privilegiar a modulação de partes do edifício em função de elementos construtivos disponíveis no mercado, ou ao garantir o dimensionamento adequado das estruturas, evitando o uso desnecessário de concreto e aço. (parte um)